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Qual é a sua ideia fixa?
Uma anedota de Thanksgiving; Crenças tóxicas; Ideias fixas sobre os outros; Ideias fixas sobre o passado.
Hoje no Dando o Fora: Uma anedota de Thanksgiving; Crenças tóxicas; Ideias fixas sobre os outros; Ideias fixas sobre o passado.
O highlight da nossa semana foi passar o Thanksgiving com amigos franco-americanos na Normandia. Observando a mãe preparando o tão famoso peru assado nos lembrou de uma anedota que escutamos há uns meses sobre o problema das ideias e crenças fixas.
Era o primeiro Thanksgiving deles como casal e a esposa queria preparar a tradicional receita da família. Ao vê-la cortar os pés do peru antes de colocar no forno, o marido perguntou:
“Por que você tem que cortar os pés?”
“Porque é assim que minha mãe me ensinou,” a esposa respondeu, de repente intrigada. No dia seguinte, ela ligou para sua mãe:
“Mãe, por que cortamos os pés do peru na receita pro Thanksgiving?”
“Hmmm, não sei. Sua avó sempre fez assim.”
A mulher então ligou diretamente para a avó, que ao ouvir a pergunta da neta começou a gargalhar: “Eu cortava os pés do peru porque antigamente nosso forno era muito pequeno.”
Bora dar o fora nas ideias fixas que não nos servem mais?
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Crenças como ideias fixas: viés de confirmação.
Nossas crenças (sobre nós mesmos, os outros e o mundo), quer estejamos conscientes delas ou não, afetam tudo em nossa vida. Elas criam nossos pensamentos, que criam nossos sentimentos, que criam nossas ações, que por final criam nossos resultados, nossa vivência.
Há algo que todos nós fazemos subconscientemente que os psicólogos chamam de viés de confirmação: procuramos evidências que se encaixam e reforçam nossas crenças pré-existentes.
Ignoramos evidências contra nossas crenças e seguimos adiante com base em opiniões preconcebidas. Isso pode ser perigoso, principalmente quando estamos lidando com questões importantes como educar, gerenciar negócios, definir estratégias, ou tomar posição em debates sociais.
Crenças tóxicas.
O escritor Richard Koch fala no podcast do Tim Ferriss sobre crenças tóxicas. Não é que toda crença por si só seja tóxica, mas se apegar a essa crença, NÃO IMPORTA O QUE ACONTEÇA, dificulta nossas vidas.
Eu lembro que decidi muito cedo que queria ser uma cientista, muito antes de entender o que a vida acadêmica realmente significava. Depois de um doutorado e um pós-doutorado, sair da academia e abandonar a crença de que eu só poderia gerar impacto através do mundo acadêmico foi difícil. Mas foi também libertador. Hoje, antes de tomar uma decisão importante, tento me questionar: estou me apoiando em crenças preconcebidas sobre quem eu um dia achei que deveria ser? Ou na visão de quem eu quero me tornar?
Aqui estão algumas das crenças tóxicas mais comuns:
Perfeição = sucesso
Meu destino é predeterminado.
Eu “sempre” ou eu “nunca” faço isso
Eu tenho sucesso quando outros aprovam o que eu faço.
Meu passado = meu futuro
Minhas emoções = realidade
Você não pode desistir (Seth Godin fala exatamente disso no seu livro O melhor do mundo)
Não há nada de errado em deixar um emprego que o deixa infeliz, terminar um relacionamento que te machucou, ou parar de viver em uma cidade que suga a sua vida. Dependendo da situação, às vezes ficar é mais tóxico do que desistir.
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Ideias fixas sobre os outros.
Em seu livro Falando com Estranhos, Malcolm Gladwell, explora a tendência humana de interpretar mal as intenções e comportamentos de pessoas que não conhecemos bem, pois sempre somos informados por nossas próprias percepções e ideias preconcebidas sobre os outros. Essas falhas de comunicação podem gerar desde mal-entendidos inconvenientes a tragédias sociais (violência racial, de gênero e xenófoba), ou até tragédias mundiais como guerras e crises políticas.
De acordo com Gladwell, três principais mecanismos reforçam nossas ideias fixas e crenças tóxicas sobre outras pessoas, dificultando nossas interações sociais:
Viés da verdade. Temos uma tendência inata a acreditar nas informações que nos são apresentadas, mesmo que sejam falsas. Exemplo: Durante a Guerra Fria, a CIA acreditou que seus agentes duplos em Cuba eram incorruptíveis, até que a evidência do contrário se tornou absurdamente óbvia.
Erro de transparência. Acreditamos que as emoções das pessoas são transparentes e facilmente compreendidas através de suas expressões faciais e que todo mundo reagirá exatamente como nós.
Quando meu pai foi parado nos EUA pela polícia rodoviária, o policial esperava que meu pai soubesse como agir, pondo as mãos no volante e não fazendo mais nada até ser mandado. Se eu não estivesse lá, meu pai teria seguido o protocolo "brasileiro": sacar os documentos e sair do carro para conversar com o policial. Por muito menos, muitos estrangeiros e afrodescendentes já foram mortos ou presos pela polícia do Estado da Georgia.
Falta de contexto. Para compreender o comportamento de qualquer pessoa, é necessário levar em consideração o contexto. Exemplo: O psicólogo Richard Seiden fez um acompanhamento com 515 pessoas que tentaram pular da ponte Golden Gate entre 1937 e 1971, mas foram inesperadamente impedidas. Apenas 25 dessas 515 persistiram em tirar suas próprias vidas de alguma outra maneira. O comportamento (suicídio) estava ligado intrinsecamente ao local (Ponte Golden Gate).
Dar o fora nas ideias fixas sobre os outros é um trabalho árduo e diário, mas fundamental.
Precisamos aceitar que a busca para entender um estranho tem limites reais. Nunca conheceremos toda a verdade. Devemos nos contentar com algo menos que isso. A maneira correta de falar com estranhos é com cautela e humildade. Quantas das crises e controvérsias que descrevi teriam sido evitadas se tivéssemos levado essas lições a sério?
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Ideias fixas sobre o passado.
O neurocientista da Universidade de Stanford David Eagleman explica em seu livro Livewired como a memória é passada e processada no nosso cérebro de um estado para outro, entre um "arquivo morto" e um estado de “acesso rápido”. No momento em que passamos uma memória que estava no "arquivo" de volta para a atualidade, ela se torna vulnerável, e pode ser modificada antes de ser re-arquivada. Dessa forma, nossa memória é uma máquina de criar histórias, e estamos constantemente reinventando nosso passado, especialmente quando contamos as histórias repetidas vezes.
Isso se aplica mesmo a memórias de eventos marcantes que não deveriam ser fáceis de esquecer. Entrevistado por Tim Ferriss, Eagleman dá um exemplo envolvendo Liz Phelps, da NYU, que entrevistou pessoas após o 11 de setembro de 2001. Os participantes foram solicitados a recordar os eventos altamente emocionais e mundanos daquele dia, bem como as lembranças do dia 10 de setembro. Um ano depois, as lembranças haviam se desviado ou mudado, destacando a maleabilidade da memória.
Se não podemos acreditar nem nas nossas próprias memórias, como podemos ser tão rígidos em nossas crenças? No final, o que acreditamos é apenas isso, o que NÓS acreditamos. Algo subjetivo, baseado em nossas experiências pessoais, sociais e temporais. O menor mal-entendido de muito tempo atrás, ampliado ao longo do tempo, pode levar a muitos mal-entendidos no presente. Face a tantas incertezas, como podemos ter tantas certezas assim? Não podemos. Só podemos manter a mente aberta e guardar nosso direito de mudar de opinião.
Dando o fora:
Arrancando as ideias fixas e crenças tóxicas.
Quando paramos para pensar conscientemente sobre isso, a maneira mais poderosa de evoluir é desafiar nossas próprias crenças. Nesse artigo, a autora nos dá ideias de como podemos descobrir nossas crenças e desafiá-las.
Eu fiz esse exercício para questionar as culpas ligadas à maternidade. Achava que sair para correr, caminhar, meditar ou me exercitar, pedir um tempo só para mim, era sinal de egoísmo. O sentimento era culpa e a crença de que ser uma boa mãe significava me entregar por inteiro. O exercício me ajudou a perceber que, ao tirar tempo para mim, eu conseguia estar muito mais presente nos momentos em que passava com Arthur.
Questione suas ações rotineiras: Examine as razões por trás de seus hábitos ou rituais diários.
Busque perspectivas externas: Pergunte às pessoas ao seu redor sobre seus hábitos e também sobre seus pontos fortes.
Identifique os gatilhos pessoais: Observe ações ou declarações de outras pessoas que o incomodam e explore as crenças que podem causar essas reações.
Questione crenças fortes: Para cada crença firme que você tem, considere se o oposto poderia ser verdadeiro.
Aplique conscientemente o oposto de sua crença padrão por algum tempo e anote os resultados de uma forma objetiva. Por exemplo, estou sendo menos produtivo agora que tiro um tempo para mim?
Analise os resultados e confirme ou descarte a antiga crença.
Esse exercício pode ser repetido várias vezes, até para as mesmas crenças, pois uma crença que nos serve hoje pode não nos servir amanhã. Quais as crenças tóxicas que você identificou?
Compartilhe com a gente e bora dar o fora na ideia de que não podemos mudar de ideia!
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