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Dando o Fora na Ajuda Não Solicitada
Thaís e os desafios de uma mãe engenheira; Ouvir para responder; Empatia: o problema não é o prego!; Ajudado, ouvido ou abraçado?; 5 dicas práticas para melhorar nossa habilidade em oferecer ajuda.
Hoje no Dando o Fora: Thaís e os desafios de uma mãe engenheira; Ouvir para responder; Empatia: o problema não é o prego!; Ajudado, ouvido ou abraçado?; Cinco dicas práticas para melhorar nossa habilidade em oferecer ajuda.
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Eu (Thaís) tenho uma confissão: eu adoro consertar as coisas. Resolver problemas. Não posso ver algo quebrado, emperrado ou torto que eu corro para consertar. O problema pode nem ser meu, pode nem ser na minha casa, mas fico com as mãos coçando quando não consigo pelo menos tentar reparar a situação.
Quando meus amigos me procuram com preocupações ou problemas, meu viés de engenheira é de tentar resolver seus problemas. Lógico que eu escuto. Realmente escuto. Mas percebo que já comecei a traçar um plano de ação para poder apresentar minha solução prontamente, mesmo antes de entender o problema. Eficiência alemã.
Outro dia, Arthur estava frustrado porque não conseguia abrir um pote. Quando eu peguei o pote da mão dele, ele olhou bem no fundo dos meus olhos e disse: "Me deixa fazer mamãe. Eu quero tentar". Aquele foi um puxão de orelha. Ele tinha razão. Uma das coisas mais difíceis que tenho percebido na minha maternidade é achar o equilíbrio entre observar e me intrometer. Saber qual o momento de entrar em campo. Lógico que ninguém quer ver o filho sofrer. Queremos mesmo é fazer de tudo para que eles possam crescer sem dor nem decepções. Para mim, essa coisa de maternar é o mais transparente dos espelhos. Uma das melhores maneiras de me encontrar. Uma eterna lição.
Minha mentalidade de “solucionadora de problemas” fez muito sentido durante minha formação e atuação como engenheira. Mas preciso ter cuidado para não aplicar essa tendência em meus relacionamentos. Principalmente se tratando do meu filho, que precisa de espaço para resolver seus próprios problemas e, no processo, entender suas necessidades, preferências e habilidades.
Bora dar o fora na ajuda não solicitada?
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Ouvir para responder.
Dar conselhos é algo necessário à espécie humana, uma forma de transferir conhecimento de geração para geração, de pessoa para pessoa. Porém, dar conselhos ou oferecer ajuda pode nem sempre ser benéfico para nossos relacionamentos.
Um dos motivos pelos quais adoramos resolver os problemas das outras pessoas é que dar conselhos é um comportamento interpessoal que aumenta o senso de poder dos indivíduos. Além disso, oferecer conselhos permite que nos sintamos úteis e solidários, proporcionando uma sensação de satisfação por poder melhorar a situação de outra pessoa. Dessa forma, nós, solucionadores de problemas, podemos estar inconscientemente tentando consertar as coisas para nossa própria satisfação.
Num geral, quando dou um conselho, estou falando sobre mim, não sobre a pessoa que quero ajudar. Estou simplesmente compartilhando meus valores e crenças fundamentais, minhas ideias acumuladas através das minhas experiências. Entretanto, aqui reside uma grande suposição. A suposição de que as outras pessoas compartilham meus exatos valores e crenças. Mas a verdade é que somos todos diferentes. O que funciona para mim pode não funcionar para você. Preciso me lembrar que no final, aquela conversa ou conselho não é sobre mim. É sobre o outro.
Ao esquecer desse “pequeno” detalhe, ao intervir para ajudar alguém, de forma contra-intuitiva acabamos piorando não só a situação do outro mas, acima de tudo, o relacionamento entre nós.
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Empatia: o problema não é o prego!
A empatia é definida como "a capacidade de entender e compartilhar os sentimentos de outra pessoa". Uma maneira importante de desenvolver nossos relacionamentos é ter empatia com os outros.
Esse pequeno vídeo chamado It’s not about the Nail (O problema não é o prego) é um bom exemplo de uma falha de comunicação muito comum não só entre casais (estereótipos de gênero à parte), mas em quase todos os relacionamentos humanos.
O vídeo mostra uma mulher reclamando com o parceiro que ele não a ouve. Enquanto isso, o homem tenta resolver o problema óbvio da sua parceira, mas o que ela quer é que ele realmente a ouça e empatize com seus sentimentos. Tão engraçado quanto alarmante, o vídeo nos lembra a frequência com a qual presumimos (erroneamente) as necessidades e prioridades das pessoas ao nosso redor, ao mesmo tempo em que também enfatiza a importância de iniciar uma conversa com empatia, onde o objetivo é ouvir para entender - realmente entender, sem querer mudar a opinião do outro ou oferecer soluções.
Às vezes (como no caso do vídeo), uma pessoa que está chateada pode até já estar ciente do que precisa fazer para resolver seus problemas, mas precisa se sentir ouvida em toda sua frustração, antes de passar à ação.
Como explicamos no Dando o Fora na Nossa Percepção da Realidade, precisamos tomar cuidado com nossa “ilusão de percepção assimétrica”, a distorção perceptiva (da qual todos somos vítimas) que nos leva a crer que temos mais insights sobre a personalidade e problemas dos outros do que eles mesmos.
É fácil achar que estamos a salvo desta “ilusão”, principalmente quando lidamos com as pessoas ao nosso redor, que pensamos conhecer muito bem (e com quem nos preocupamos de verdade), como no meu caso com o Arthur. Nestes casos, é ainda mais importante confiar que cada pessoa - mesmo nossas crianças - tem dentro de si mesma a capacidade de resolver seus problemas da forma que fará sentido para ela.
DandoOFora.com
Cada um de nós tem um mestre interior, uma voz da verdade, que oferece a orientação e o poder de que precisamos para resolver nossos problemas.
Ao reconhecer o potencial e a autonomia de cada um, começamos a olhar pro outro com mais curiosidade e menos suposições. E, ao olhar para nossos amigos, familiares e colegas com curiosidade, podemos (re)conhecer a perspectiva de cada um, aprofundar nosso próprio conhecimento e, no caminho, melhorar nossos relacionamentos.
Se precisar de mais um argumento, basta lembrar deste estudo conduzido durante 85 anos pela Universidade de Harvard para achar a chave da felicidade: relacionamentos profundos, calorosos e de qualidade.
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Ajudado, ouvido ou abraçado?
Mas o que podemos fazer, na prática, quando alguém vier desabafar conosco?
Antes de mais nada, comece com a pergunta mágica:
Essa simples pergunta pode fazer toda a diferença nos nossos relacionamentos, porque ao invés de oferecer uma solução, oferecemos opções. E ter a opção de escolha dá às pessoas uma sensação de controle. Além disso, essa pergunta é poderosa porque coloca todos em pé de igualdade. Não presumo que eu saiba algo que você não sabe. Quando ofereço essas três opções estou basicamente perguntando: o que você precisa de mim neste exato momento?
Algumas vezes as pessoas precisam ser abraçadas pois estão precisando se acalmar e regular suas emoções. De fato, pesquisas mostram que abraços aumentam os níveis de ocitocina, o hormônio do vínculo, além de reduzir o estresse. Mas o abraço também pode ser visto como uma metáfora para simplesmente estar presente, enviando a mensagem de que o outro está seguro e têm lugar de fala e pertencimento naquela interação.
Outras vezes, as pessoas só precisam ser ouvidas. Pode ser que estejam somente ensaiando conversas difíceis que precisam enfrentar. Talvez, só o processo de se ouvir dizer as palavras em voz alta já ajuda a organizar os pensamentos e regular as emoções. Pesquisas mostram que ouvir pode satisfazer necessidades psicológicas básicas, especialmente de autonomia e relacionamento.
Pessoas se beneficiam quando percebem o apoio da autonomia de qualquer parceiro relacional significativo (por exemplo, professores, profissionais de saúde e pais) em termos de maior proximidade, envolvimento comportamental e bem-estar. Ou seja, quando nossos amigos, familiares e colegas de trabalho sentem que suas necessidades psicológicas são atendidas (autonomia, relacionamento e competência), eles podem se envolver com os outros de forma aberta, sem se defender, e realizar atividades com energia e perseverança.
Esse conceito simples do “ajudado, ouvido ou abraçado” é tão poderoso porque esclarece as necessidades, ajuda a regular as emoções e a tomar atitudes positivas que ajudarão cada um a encontrar o seu próprio caminho.
Hoje, quando Arthur me traz um problema, eu tento lembrar dessa simples pergunta, abrindo a oportunidade para ele me falar o que ele precisa, ao invés de impor o que eu acho que ele precisa. Muitas vezes tudo o que ele quer é um abraço. E o bom de tudo isso é que quando ele realmente precisa de ajuda, ele me fala, e a engenheira pode, então, pegar sua caixinha de ferramentas, e entrar em campo - com permissão.
Fonte: happyhabitsart.substack.com
Dando o fora:
Cinco dicas práticas sobre como aplicar os pontos acima e melhorar nossa habilidade de oferecer ajuda e estar presente nos vários relacionamentos que compõem nossas vidas, em casa, entre amigos e no ambiente de trabalho:
Use o silêncio como ferramenta: Reserve momentos diários de silêncio para refletir e criar espaço mental. Tente praticar a meditação ou simplesmente fique em silêncio por alguns minutos para acalmar a mente. Isso ajuda a criar um ambiente mais tranquilo e propício para uma comunicação mais clara.
Pergunte-se sempre: DEVO ESPERAR? Quando sentir vontade de oferecer conselhos ou soluções, pare e respire fundo. Pergunte a si mesmo: "Por que estou falando isso agora? Será que é necessário?" Essa pausa pode evitar respostas impulsivas e abrir espaço para uma comunicação mais ponderada.
Faça perguntas simples e diretas: Em vez de presumir o que o outro precisa, pergunte diretamente: "O que você precisa de mim agora? Como eu poderia ser mais útil para você?" Isso mostra que você está presente e disposto a apoiar da maneira que a pessoa realmente precisa.
Ofereça opções: ajudado, ouvido ou abraçado? Pergunte à pessoa se ela precisa ser ajudada, ouvida ou abraçada. Isso dá a ela a oportunidade de expressar claramente suas necessidades (controle) e evita suposições equivocadas sobre como você pode ajudar.
Lembre-se: O problema não é o prego! Muitas vezes a outra pessoa não veio até você em busca de uma solução. O importante é estar presente e oferecer apoio emocional. Assista ao vídeo "It’s Not About the Nail" para entender melhor essa dinâmica.
Desde que começamos a seguir esses princípios aqui em casa, Vini, Arthur e eu temos experimentado um senso de conexão e compreensão muito mais profundo uns pelos outros. É um trabalho contínuo, mas apenas estar ciente dessas ferramentas pode fazer uma grande diferença. Nem tudo é sobre você e, às vezes, a melhor coisa que você pode fazer é não fazer nada.
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