Dando o Fora na Negatividade Contagiosa

Arthur e o orangotango; Emoções virais; Contágio emocional e o viés da negatividade; Em busca da felicidade coletiva; Gratidão como antídoto para a negatividade tóxica.

Hoje no Dando o Fora: Arthur e o orangotango; Emoções virais; Contágio emocional e o viés da negatividade; Em busca da felicidade coletiva; Gratidão como antídoto para a negatividade tóxica.

Fonte: Shutterstock.com

Num passeio com amigos queridos ao maior zoológico da França, nossos filhos de cinco e dois anos estavam com a corda toda. Era uma correria, uma euforia, uma energia que transbordava. Mas quando entramos na casa dos primatas a energia mudou rapidamente: um bebê orangotango estava calmamente examinando as crianças ao seu redor. As crianças pararam. Se acalmaram. Entraram num estado de admiração.  Uma cena incrível: Arthur copiava o orangotango e o orangotango copiava Arthur. Uma cena que nos mostrou como somos espelhos uns dos outros.

Através do espelho: Arthur e o bêbê orangotango

Uma das coisas que tenho mais admirado em nossas pesquisas para o Dando o Fora é que estudos científicos estão demonstrando muitas coisas que a gente sentia que “já sabia”. Por exemplo, todo mundo “sabe” que o estado emocional de uma pessoa pode influenciar outra pessoa. Mas o que a gente não sabia é que nossas emoções se espalham muito mais do que imaginamos.

Todo mundo tem aquele amigo que gosta de reclamar de tudo, que está sempre negativo e que acaba passando sua negatividade às pessoas que o cercam. Muitas vezes nós mesmos somos esse amigo. Todos também temos aquela pessoa que parece um sol, que espalha gentileza por onde passa e nos faz sentir aquecidos e abraçados. A verdade é que podemos escolher quais emoções queremos passar para as pessoas que nos cercam (e muito além). 

É uma baita responsabilidade…

Então, bora dar o fora na negatividade contagiosa?

Dando o fora em…

3…

Emoções virais.

A tristeza é contagiosa e se propaga como um vírus. Isso é o que um estudo longitudinal da Universidade de Yale demonstrou ao monitorarem durante mais de 30 anos cerca de 5.000 pessoas da pequena cidade de Framingham, Massachusetts. Eles descobriram que quando alguém ficava triste, essa emoção se espalhava por sua rede de contatos, formando "grupos de tristeza" por toda a cidade. 

Um estudo chamado “Eu estou triste, você está triste” (I’m sad, you are sad) mostrou que emoções como a tristeza podem ser repassadas até virtualmente. Por exemplo, participantes que estavam tristes ao trocar mensagens com seus parceiros utilizaram menos palavras e mais termos tristes, além de trocar mensagens em ritmo mais lento. Parceiros que interagiram com os participantes "negativos" do estudo receberam significativamente menos afeto positivo do que os parceiros no grupo de controle. Os resultados do estudo são claros: emoções podem ser repassadas virtualmente através de texto; e podem "contagiar" nossos interlocutores mesmo quando não interagimos com o objetivo de expressar uma emoção.

Em uma escala bem maior, após analisar mais de um bilhão de "status" do Facebook, pesquisadores da Universidade de Yale descobriram que quando chove em uma determinada cidade (por exemplo, Nova York), os habitantes não só ficam mais tristes, mas ao postar sobre sua tristeza, impactam negativamente o estado de espírito de amigos em cidades ensolaradas. Isso sugere que as emoções podem se espalhar de um local para outro, demonstrando evidências de contágio emocional em grande escala (nota para mim mesma: pensar nisso na próxima vez que estiver reclamando do tempo feio e chuvoso de Paris para alguém no Brasil!).

Toda essa ciência nos demonstra o quanto nosso estado emocional pode contagiar outras pessoas sem que elas percebam, e até mesmo na completa ausência de sinais não verbais. 

Mas por que somos vítimas tão fáceis da negatividade?

Somos espelhos que refletem espelhos que refletem espelhos, mostrando uns aos outros o que ainda não podemos ver.

2…

Contágio emocional e viés da negatividade.

Você lembra daquele feriadão maravilhoso na praia que acabou num domingo à noite estressante, com horas de engarrafamento? Do que você lembra melhor, do banho de mar ou da vontade de ir ao banheiro no meio da rodovia travada? Se você lembrou do stress da viagem, você é mais uma vítima do viés da negatividade, um viés cognitivo que faz com que eventos negativos tenham um impacto mais significativo em nosso estado psicológico do que eventos positivos.

Os psicólogos Paul Rozin e Edward Royzman documentaram pela primeira vez o viés de negatividade num artigo de 2001 entitulado "Negativity Bias, Negativity Dominance, and Contagion". Como os outros vieses cognitivos, o viés da negatividade foi se desenvolvendo ao longo da evolução humana. Ao serem continuamente expostos a ameaças ambientais imediatas, nossos ancestrais desenvolveram esse viés para sobreviver.

O viés da negatividade afeta nossa autoestima e nossa tomada de decisão. Ao passarmos muito mais tempo relembrando e analisando memórias negativas ou aspectos negativos da nossa personalidade, mantemos essas informações negativas sempre frescas em nossas mentes. Empobrecemos nosso campo de escolhas e diminuímos nossa motivação para completar tarefas, pois sempre esperamos o pior - do mundo e de nós mesmos. Claro, ter cautela é positivo na maior parte das escolhas práticas da vida, mas às vezes ser cauteloso demais pode levar a decisões mal elaboradas e resultados desfavoráveis.

Numa sociedade cada vez mais conectada através das mídias sociais, é importante refletir sobre o impacto do viés da negatividade em nossas vidas. Vivemos constantemente lutando contra a negatividade tóxica, bombardeados por uma cobertura midiática majoritariamente negativa sobre os mais variados assuntos. Mas nós também somos difusores de informações e, mais importante, emoções. Cada post nosso impacta não só nossas redes, mas também as pessoas com quem nossos contatos vão interagir, e por aí vai, gerando um enorme "contágio" sobre o qual não temos controle, mas que vai impactar várias vidas.

Sabendo que o conteúdo que compartilhamos, negativo ou positivo, impacta uma rede extensa de pessoas (muito além dos nossos contatos), temos que tomar responsabilidade sobre o conteúdo que compartilhamos em nossas redes.

Antes de postar, pergunte-se: quero ter um impacto positivo ou negativo no dia das centenas de pessoas?

1…

Em busca da felicidade coletiva.

Nem tudo está perdido. Assim como muitas coisas na vida, o contágio emocional tem um lado positivo: a felicidade também contagia.

Isso é o que demonstrou aqueles mesmos estudos que apresentamos acima. 

No estudo realizado com 5 mil pessoas na cidade de Framingham, Massachusetts (USA),  todos os voluntários foram interrogados três vezes entre 1983 e 2003 sobre seu sentimento de felicidade: «Você já se sentiu confiante sobre o futuro na semana passada? Alegre? Feliz de viver?». As mesmas questões foram propostas a seus vizinhos, amigos, irmãos e irmãs. A possível transmissão da felicidade foi examinada através de mais de 50 mil conexões. 

Os resultados mostraram que a felicidade se espalha através de redes sociais, de vizinhos e amigos a completos desconhecidos, se estendendo por até três graus de separação. Por exemplo, quando uma pessoa se torna mais feliz, um de seus amigos que mora a menos de um quilômetro tem 25% de chances de se tornar mais feliz e o amigo deste amigo também terá 10 % de chance de se tornar mais feliz. Quanto mais o amigo está perto, mais o contágio é intenso. 

Para nós, a descoberta mais importante é que a felicidade pode ser transmitida com mais facilidade do que a tristeza. Em média, cada pessoa que se torna feliz oferece 9% de chance a um amigo próximo de registrar maiores níveis de felicidade. Contrariamente, cada pessoa que se torna infeliz aumenta em 7% o risco de um amigo próximo registrar maiores níveis de infelicidade.

Quando nos conscientizamos de que estamos interconectados e de que somos espelhos uns dos outros, ao nos depararmos com emoções negativas desencadeadas por outras pessoas, em vez de reagir impulsivamente, podemos pausar e refletir. Não estamos aqui apenas para sermos acionados, mas para agir independentemente. Deixando de lado o "viés da negatividade", podemos optar por responder de forma ponderada. Ao reconhecer que temos o poder da escolha, podemos começar a cultivar uma vida por projeto, não por padrão, e a pensar na busca da felicidade não como um objetivo solitário, e sim coletivo. 

Escrevendo sobre esse assunto, Thaís lembrou de uma das suas propagandas preferidas de todos os tempos. Pensando em impactar o dia de vocês positivamente e dar início a um ciclo positivo, deixamos aqui o link para o vídeo Gentileza gera gentileza.

Gentileza gera gentileza: Passe esta ideia! [Clique na imagem para assistir ao vídeo]

Dando o fora na Negatividade Contagiosa:

Gratidão é o melhor antídoto.

O simples fato de estar ciente do nosso viés de negatividade e da facilidade com que as emoções se espalham permite que você mude a si mesmo, as pessoas ao seu redor e muito além! Da próxima vez que você receber uma mensagem de texto que o deixe triste, ou que vir uma publicação nas mídias sociais que o deixe irritado, ao invés de reagir imediatamente, você pode parar por um momento, refletir e responder com compaixão.

Uma das maiores dificuldades em dar o fora na negatividade é que ela rapidamente se transforma em hábito. Uma pessoa que se preocupa constantemente e que acha que o pior vai sempre acontecer, acaba por ficar com seus pensamentos dolorosos por serem familiares. Dentro da sua suposta zona de conforto (que não é nada confortável), o pessimista se sente "no comando" de seus pensamentos.

Para quebrar esse ciclo, o psiquiatra Phil Stutz sugere uma ferramenta que tem uma força maior do que a negatividade: a gratidão. A gratidão cria uma sensação física de presença imediata e nos faz sentir parte de um sistema, nos tirando do isolamento e dos pensamentos negativos. Mas cuidado: gratidão não significa pensamento positivo. Como Phil Stutz explica, ao contrário do pensamento positivo que não é fundado na realidade, a gratidão está ligada a coisas concretas, que já aconteceram ou que estão acontecendo nesse momento. 

Phil Stutz não está sozinho em suas recomendações. Estudos demonstraram que participantes que escreveram coisas pelas quais eram gratos todos os dias se exercitaram mais, relataram maiores níveis de energia e menos dor. Eles também dormiram uma média de 30 minutos a mais por noite.

A próxima vez que perceber que está entrando em um ciclo de pensamentos negativos ou de sentimentos negativos, tente parar por 30 segundos e pense em coisas na sua vida pelas quais você é grato.

Detalhe: não precisa pensar em uma lista inteira. Aqui vai então o nosso Dando o Fora da semana:

Escreva 3 coisas pelas quais você é grato todos os dias, durante 21 dias seguidos e observe o impacto que isso pode ter na sua vida. Se estiver com dificuldade de tornar isso um hábito, siga as dicas que demos nessa newsletter sobre a força dos hábitos diários.

P.S.

Nota importante: não há evidências de que manter um diário de gratidão possa curar uma doença grave. Mas quando se trata de se sentir bem em geral, a gratidão parece realmente funcionar.

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