Dando o Fora em Barcelona (Edição Especial)

Aprendizados em Barcelona; Você é Suficiente!; O valor da escuta efetiva; Lá na curva o que é que vem?; 5 lições inspiradas por Antoni Gaudí.

Hoje no Dando o Fora: Aprendizados em Barcelona; Você é Suficiente!; O valor da escuta efetiva; Lá na curva, o que é que vem?; 5 lições inspiradas por Antoni Gaudí.

Quer apoiar o Dando o Fora: Compartilhe com um amigo!

Thaís e eu (Vini) passamos esta última semana na capital arquitetônica e artística da Espanha, Barcelona. Voltamos dessa semana com um enorme sentimento de gratidão. Não só por termos encontrado uma nova cidade favorita na Europa, mas por termos tido a oportunidade de aprender lições de vida importantes através da obra do arquiteto e designer Antoní Gaudí.

Decidimos fazer uma pequena pausa em nossa trilogia “Dando o Fora na Dependência Digital” (a terceira parte sairá semana que vem!) para compartilhar com vocês alguns dos insights que tivemos nessa semana tão maravilhosa de encontros e conexões entre amigos, arte e natureza.

Convidamos vocês para dar um fora especial, inspirado em nossos aprendizados na capital catalã.

Dando o fora em…

3…

Você é suficiente!

Grandes conferências de trabalho são momentos delicados. Apesar de oferecer oportunidades importantes para conectar com parceiros, expandir redes de networking e avançar objetivos pessoais de carreira, estas conferências são momentos exaustivos e, para muitos de nós, ansiógenos. Quem nunca saiu exausto de um dia inteiro de painéis e workshops seguidos por uma longa recepção até altas horas da noite – só para fazer tudo de novo nos dias seguintes?

Em meu contexto atual, de transição profissional, a conferência de Barcelona (sobre ciência e proteção do oceano) tomou um significado ainda maior, como uma oportunidade de abrir contatos e oportunidades para a nova fase. Nos dias que antecederam nossa viagem, eu fui invadido por sentimentos contrastantes. Por um lado, a expectativa de encontrar amigos e colegas queridos e de participar de debates importantes para o bem-estar do oceano. Por outro, uma ansiedade avassaladora, típica da “síndrome do impostor”, que punha em dúvida minha capacidade de cumprir meu papel na conferência, contribuir às discussões ou fazer qualquer tipo de networking efetivo.

No segundo ou terceiro dia de conferência, uma situação inusitada me deu uma ótima lição. Ouvi alguém me chamando. Uma senhora me reconheceu, se aproximou e começou a me abraçar e a me agradecer profusamente. Fiquei confuso. O que eu poderia ter feito de tão importante para ajudá-la? Entre muitos abraços e agradecimentos, ela me explicou que eu era a única razão dela estar ali, naquela conferência, seu primeiro evento profissional após um longo período de doença e complicações pessoais. Aquele evento foi a oportunidade que ela precisava para retomar sua vida pessoal e profissional. Segundo ela, ela só estava ali por causa de um email no qual eu a encorajei a participar e a ajudei a navegar o burocrático processo de inscrição.

Eu confesso que não lembrava do email que eu havia escrito. E não imagino que tenha me tomado mais do que cinco ou dez minutos para “ajudá-la”. Mas pela gratidão estampada nos olhos daquela mulher, aqueles minutos claramente haviam valido a pena. Mais que muitos dias inteiros de trabalho. Naquele momento, eu também fiquei grato. Grato pela oportunidade de me ver através dos seus olhos. De ver que, apesar de intrinsecamente imperfeito e sujeito a inúmeros momentos de ansiedade, para aquela senhora – naquele contexto – eu tinha sido suficiente.

A conferência acabou sendo um lindo e simbólico fechamento para este momento da minha vida. Saí de Barcelona com muita energia positiva para dar os próximos passos, nutrindo meus valores essenciais e reconectando com minha humanidade, imperfeita e suficiente.

Casa Batló: as curvas no dia-a-dia

2…

O valor da escuta efetiva.

A outra grande lição da semana para mim (Vini), não veio da conferência, mas sim da Thaís, logo na primeira noite. Fomos convidados por parceiros para um delicioso jantar no intuito de conhecer o trabalho deles e explorar possibilidades de colaboração. Era para ser um típico jantar de networking. 

Fiquei sentado no fim da mesa, em frente a um marinheiro e na diagonal de uma pesquisadora que estava discutindo com ele temas sobre os quais eu não me sentia preparado para contribuir. Disparei todo o meu arsenal de conversa fiada (small talk soa melhor!) e ainda que tenha conseguido engatar algumas conversas com meus vizinhos, ainda estava me sentindo inseguro.

Durante a refeição, Thaís sugeriu que trocássemos de lugar para que eu pudesse ter a chance de também conversar com outros parceiros. Meus novos vizinhos estavam bem mais à vontade, senti que a conversa estava fluindo mais organicamente. Ao olhar para a Thaís conversando com o marinheiro e a pesquisadora, fiquei surpreso de ver como eles pareciam absortos numa conversa super interessante. 

Mais tarde, enquanto voltávamos ao nosso apartamento, Thaís me contou detalhes de cada convidado num nível bastante profundo (para um jantar de negócios). Durante o pouco tempo que passaram conversando, a pesquisadora havia compartilhado com Thaís toda a sua história de vida, suas motivações, seus sonhos. Eu, por outro lado, estava satisfeitíssimo comigo mesmo apenas por lembrar seu nome.

Ao ouvir a Thaís, percebi o quão mais profundamente eu poderia conectar com as pessoas que vou conhecendo em qualquer momento da minha vida. Pedi então um conselho: como ela conseguia quebrar as barreiras e ter conversas tão profundas e honestas? Thaís me explicou que principalmente em ambientes profissionais, onde a convenção nos estimula a falar mais do que ouvir, a escuta efetiva se torna fundamental. Todos queremos falar sobre nós mesmos, mas o que mais queremos - acima de tudo - é sermos ouvidos. E neste mercado, uma audiência honestamente interessada, que ouve de forma plena ao invés de construir mentalmente a próxima réplica, vale ouro. O segredo da supercomunicação da Thaís não é que ela fala menos que outras pessoas (quem a conhece sabe bem disso!), mas que ela usa ambas suas perguntas e suas contribuições para gerar valor para sua audiência, seja ela uma única pessoa ou um auditório inteiro. Ao entrar no modo de escuta efetiva, ela não só abre espaço para os outros, mas também para si mesma: questionando suas presunções e crenças, no intuito de dar ao interlocutor não a melhor versão de si mesma, mas a mais autêntica e vulnerável.

Para quem quer saber mais sobre esse tema, recomendo o livro recentemente publicado por Charles Duhigg, Supercomunicadores: Como desbloquear a linguagem secreta da comunicação.

Parc Guell: Curvas entre a natureza e a cidade.

1…

Quando recebi o convite para ir a Barcelona, Thaís e eu combinamos que íamos ficar um dia a mais, após a conferência, para visitar a catedral e outras obras do Gaudí. Mesmo com o Arthur - cuja paciência para turismo arquitetônico tem um certo limite - conseguimos visitar a Casa Batló, o Parc Guell e a Sagrada Família (que é de longe a Catedral mais linda, divertida e maravilhosa que conhecemos).

A casa, o parque e a catedral são lugares e obras muito diferentes, mas sentimos que a filosofia arquitetônica de Antoni Gaudí criou uma unidade entre eles, baseada na ideia de fluxo natural e retorno às nossas origens naturais. Ficamos obcecados com as curvas tão onipresentes na obra gaudiana, que remete ao conceito de “caminho versus estrada” que o Brad Stulberg explica em seu livro Master of Change. Uma estrada representa uma rota fixa e predeterminada, enquanto um caminho simboliza uma jornada mais flexível e aberta. Interpretamos a obra de Gaudí como encorpando o conceito de um caminho: sem linhas retas, sempre ondulando para cima ou para baixo. O próprio arquiteto ficou famoso por nunca seguir um plano rígido, permitindo que sua intuição, a natureza e criatividade o guiassem, mesmo quando significava mudar todo o projeto no meio do caminho. Gaudí nos lembrou da importância de ignorar nossos custos irrecuperáveis ao tomar decisões. O resultado: designs inovadores e únicos.

Foi mágico poder interagir com a filosofia fluida de Gaudí num momento crucial onde ambos, Thaís e eu, estamos empreendendo transições de vida e carreira. Da Casa Batló à Sagrada Família, Gaudí nos mostra que abraçar o conceito da vida e da carreira como um caminho, sinuoso e incerto mas cheio de otimismo, permite que desenvolvamos adaptabilidade, criatividade e um gosto pela inovação. 

O estilo arquitetônico do surrealista catalão, enraizado na autoconfiança e intuição, serve como um lembrete comovente de que, tanto na arte quanto na vida, as experiências mais significativas muitas vezes surgem ao abraçar o desconhecido e confiar na jornada.

Sagrada Família: Curvas entre a Terra e o Céu

Dando o fora com o Antoni Gaudí:

Cinco aprendizados inspirados em Gaudí:

  1. Abrace sua imperfeição, pois ela faz parte de você e você é suficiente!

DandoOFora.com

O requisito mais importante para que um objeto seja considerado belo é que ele cumpra o propósito para o qual foi concebido.

Antoni Gaudí
  1.  Relaxe a rigidez e abra caminhos que levem a lugares inesperados.

DandoOFora.com

A linha reta é algo covarde, desenhada com uma régua, sem pensamento ou sentimento.

Antoni Gaudí
  1. Reconecte com sua natureza: volte sempre aos seus valores essenciais.

DandoOFora.com

Originalidade é voltar à origem; de modo que original é aquele que, com novos meios, volta à simplicidade das primeiras soluções.

Antoni Gaudí
  1. Confie na sorte e no acaso.

DandoOFora.com

Na sagrada família, tudo é providencial.

Antoni Gaudí
  1. Reconecte com as forças superiores do universo através da natureza.

DandoOFora.com

Aqueles que buscam as leis da natureza como suporte para suas novas obras colaboram com o criador.

Antoni Gaudí

P.S. da Thaís:

Quando li o que Vini escreveu na segunda parte do Dando o Fora fiquei muito surpresa. Ler o seu relato daquele jantar me fez pensar sobre como todos nós temos uma percepção diferente de qualquer situação. Realmente precisamos nos lembrar de que nosso cérebro é uma máquina de criar histórias, e cada um cria uma história diferente.

Então aqui vai o meu lado da história. Naquele jantar, eu estava me sentindo muito insegura. Queria logicamente me apresentar da melhor forma possível em um jantar importante para a nova carreira de Vini. Por outro lado, estava preocupada em estar falando demais. Estava realmente interessada em cada pessoa com quem tive a sorte de interagir, o que me levou a fazer muitas perguntas. Descobri a história da infância de uma famosa estilista indiana que teve que usar a mesma saia do uniforme por anos. A mãe dela ia descendo as barras da saia conforme ela ia crescendo, o que deixou a saia com três grandes faixas décalées. “Eu parecia um tronco de árvore”, ela me contou chorando de tanto rir.  Aprendi sobre como os corais em recifes degradados podem se beneficiar dos sons de recifes saudáveis

O problema é que além de eu já comer extremamente devagar, quando entro no modo de escuta efetiva, paro de comer para focar no que a outra pessoa está falando. Eu acabei atrasando bastante o garçom, que queria passar aos próximos pratos, o que me deixou com muita vergonha na frente daquela audiência. Quando pedi para trocar de lugar com Vini, fiz isso de forma desastrada porque percebi que ele precisava de alguns minutos com as pessoas do meu lado da mesa. Mas não tinha sido uma “ideia genial”, somente um impulso, o que me deixou mais insegura por não saber como isso seria interpretado.

Do outro lado da mesa, quando já não aguentava mais comer nem falar, entrei realmente em lugar de escuta. A pesquisadora era uma mulher que mergulhava desde os seus 15 anos, que trabalhava com ONGs, uma candidata a astronauta para a Nasa e que conseguiu uma bolsa de doutorado na universidade de Duke sem sequer ter tido um bacharelado, apenas por ter tido uma ideia e ter aprendido a escrever uma proposta de pesquisa. Ao ouvir sua história, na minha cabeça, ela precisava ter pelo menos uns 60 anos para poder ter feito tudo isso. Mas com seu sorriso inseguro e jeitinho relaxado ela parecia ter apenas 30. Quando disse isso a ela, ela começou a rir. Na verdade ela tinha 47 anos - 10 anos a mais do que eu. Isso me deu uma grande paz. Como disse Vini (reiterando o Gaudí), precisamos dar o fora na ideia de uma linha reta em nossas vidas. Nesse momento de transição de carreira, é comum nos perguntarmos - será que estamos no caminho certo? Será que esse passo faz sentido? O que aquela pesquisadora me ensinou, sem saber, é algo que sempre escuto da avó de Vini: “Caminante no hay camino, se hace camino al andar”. 

À noite, depois do jantar, fiquei revirando na cama. Pensando que havia falado demais. Pensando em cada gafe que poderia ter cometido. Deveria ter escutado mais. Deveria ter comido mais rápido. Pensei que talvez tivesse até atrapalhado Vini. Olá, síndrome do impostor. Olá, mente obsessiva. Fiquei com um sentimento estranho até o dia seguinte. Até que Vini me contou que seus parceiros tinham adorado conversar comigo. O jantar foi um sucesso. Como assim? 

Então aqui vem minha grande lição de Barcelona: preciso realmente aprender a ser mais gentil comigo mesma. Preciso confiar na minha genuína intenção de me conectar com as pessoas e “de dar ao interlocutor não a melhor versão de mim mesma, mas a mais autêntica e vulnerável” (como Vini disse tão bem). Isso pode realmente ser o suficiente.

Vem dar o fora no Instagram e no Whatsapp!

Join the conversation

or to participate.