Dando o fora no Paradoxo da Escolha

Escolhas de sábado à noite; Toda escolha implica perda; Paradoxo da escolha: liberdade vs paralisia; O outro lado da moeda; Seis dicas para desparadoxar nossas escolhas.

Hoje no Dando o Fora: Escolhas de sábado à noite; Toda escolha implica perda; Paradoxo da escolha: liberdade vs paralisia; O outro lado da moeda; Seis dicas para desparadoxar nossas escolhas.

Antes de mais nada…
Gostaríamos de agradecer a todos que tiraram um minuto do seu tempo para nos enviar feedback sobre a newsletter passada! Ficamos felizes de receber suas histórias e reflexões sobre como lidar com a negatividade contagiosa através da gratidão.

Thaís e Vini

Sábado à noite, uma sessão cinema qualquer na casa dos Roque-Grunberg

- Amor, vamos pedir pizza?

- Sim, qual sabor? - responde Vini, abrindo o celular com o cardápio da Pizza Hut.

- 30 minutos e 247 tipos de pizza mais tarde:

- Pode ser margarita mesmo.

Com borda recheada ou sem? Massa fina ou pan? Quer acrescentar mais algum ingrediente? Alguma entrada? Alguma bebida? Que tamanho?

- 1 hora depois, exaustos, ligamos a TV:

- Que filme vamos ver?

- Não sei, vamos olhar na Netflix.

30 minutos depois, a pizza fria no colo:

- Nossa, 22:00 horas já. Ihhh, acho melhor assistirmos a uma série.

- Verdade. Netflix, Apple ou Prime?

- Zzzz…

Tenho certeza que nossa família não está sozinha nesse sentimento de paralisia, perda de tempo e frustração com a infinidade de opções que temos hoje em todos os âmbitos da vida moderna: das marcas de iogurte no supermercado até qual profissão escolher.

Pegue um chá, uma água ou um café - viu que só demos 3 opções ;) - e bora dar o fora no paradoxo da escolha? 

Dando o fora em…

3…

Toda escolha implica perda.

O que significa escolher? De acordo com o professor e filósofo Clóvis Barros, escolher é atribuir atribuir valor às possibilidades de escolha e identificar a alternativa de maior valor entre todas as opções. Com isso, escolher uma coisa geralmente significa descartar outras opções.

Muitas vezes não conseguimos escolher entre as várias opções que nos são apresentadas pelo simples fato de não conseguirmos falar não. Como disse Leandro Karnal nesse vídeo, toda escolha implica perda. Quando estamos escolhendo uma pizza, dizemos sim para um sabor e não para os outros 246 sabores de pizza no cardápio. Impossível não pensar: será que escolhi o melhor sabor? Teria sido mais feliz com outra pizza? A fatia nem esfria e já estou frustrada.

Como seres humanos, somos livres e capazes de fazer escolhas, mas essa liberdade pode se transformar em fonte de sentimentos desagradáveis. Um desses sentimentos, Clóvis explica, é a angústia que surge quando percebemos que na vida real (diferentemente da escola) não existe uma referência absoluta de comparação (gabarito) para que possamos escolher a melhor opção. 

Para que possamos escolher - quer dizer atribuir valor a cada opção - precisamos primeiro desenvolver nossa própria hierarquia de valores que queremos seguir em cada situação. Quando uma amiga me pergunta: “Tha, o que achou do meu novo corte de cabelo?”, e se eu não tiver gostado do cabelo, fico entre ser honesta e ser gentil. Com cada escolha, enfrento um dilema. Que valor vale mais? 

Em cada situação precisamos definir quais valores (pessoais ou sociais) queremos seguir para cada escolha. Os critérios usados são circunstanciais e pessoais. E são exatamente esses valores, muitas vezes complexos e paradoxais, que garantem nossa liberdade de escolha. Porque se tivéssemos sempre um gabarito para seguir, estaríamos abrindo mão da liberdade que nos torna humanos.

#MondayMeme pra vocês!

2…

Paradoxo da escolha: liberdade vs paralisia.

Mas será que maximizar a liberdade individual significa maximizar nosso bem-estar?  É realmente mais livre e contente a pessoa que pode escolher entre 247 sabores de pizza? 

É exatamente essa pergunta que Barry Schwartz explora em seu livro "O paradoxo da escolha - Por que mais é menos". Expandindo o trabalho de Herbert Simon (1955) que introduziu uma distinção importante no estudo de estratégias de escolha entre maximização (buscar o melhor através de uma busca exaustiva de todas as possibilidades) e satisfação (buscar o "suficientemente bom", procurando até encontrar uma opção que ultrapasse o limite da aceitabilidade), Barry Schwartz realizou um estudo com alunos que estavam em seu último ano de faculdade (Doing Better but Feeling Worse). Schwartz observou que alunos com alta tendência à maximização conseguiram empregos com salários iniciais 20% mais altos do que os alunos com baixa tendência à maximização. Entretanto, como também mostramos no âmbito das negociações, os maximizadores ficaram menos satisfeitos com os empregos que obtiveram e experimentaram mais sentimentos negativos durante todo o processo de busca de emprego.

Ao contrário dos satisficers, termo anglófono para quem busca escolhas satisfatórias, os maximizadores (maximizers) se esforçam para obter a melhor opção absoluta, o que leva a um aumento do arrependimento e da insatisfação quando se deparam com uma diversidade de opções. 

As sociedades ocidentais, especialmente a norte-americana, enfatizam a liberdade, muitas vezes equiparando-a a ter mais opções. Na opinião de Schwartz (TedTalk em inglês com legenda em português - super indicamos!), a sobrecarga de opções não nos tornou mais livres e sim, paradoxalmente, mais paralisados. Mesmo quando conseguimos superar nossa paralisia para escolher, acabamos menos satisfeitos com o resultado das nossas escolhas. Ter mais opções não nos tornou mais felizes e sim mais insatisfeitos. 

Por que uma maior diversidade de escolha pode resultar em menos satisfação? Os motivos são quase tão variados quanto as opções de escolha:  

  • Arrependimento: após implementar a escolha, você sente que poderia ter escolhido melhor.

  • Arrependimento antecipado: após escolher, mas antes de implementar a escolha, você sente que poderia ter escolhido melhor, mesmo sem saber qual será o resultado da escolha que você fez.

  • Custo de oportunidade: quando lhe são apresentadas opções, a perda da escolha que você não fez será potencialmente aumentada em sua mente. Também conhecido como "FOMO (fear of missing out)” ou o medo de ficar de fora. 

  • Fadiga e sobrecarga de decisões: quando cada decisão consciente que você toma tem um custo cognitivo, tomar essas decisões pode ser exaustivo.

  • Auto-culpa: “se tenho tantas opções e dentro delas não consigo encontrar a que melhor se encaixa para mim, logo o problema sou eu”.

A profusão de opções cria a ideia de que existe uma escolha perfeita em cada situação. Isso seria verdade somente se tivéssemos todos os fatos relevantes sobre cada escolha em questão. E mesmo que pudéssemos ter todas as informações relevantes, vivemos num mundo imprevisível e em constante mudança que não pode ser compreendido completa ou absolutamente. 

Acabamos sempre com aquela pulga atrás da orelha que nos diz “será que escolhi certo?”.

"Nós queremos tomar as decisões corretas e depois esperamos que o mundo pare de mudar, que nunca mais enfrentemos incertezas. O resultado é que até mesmo pequenas decisões assumem um peso de vida ou morte... Na verdade, decisão boa ou não, a vida vai continuar."

1…

O outro lado da moeda.

Embora muitos estudos tenham demonstrado que a satisfação das pessoas é inversamente proporcional ao número de opções elegíveis para escolha, outros estudos apresentam evidências conflitantes, revelando dificuldades em replicar os resultados do estudo original que deu príncipio ao paradoxo da escolha de Barry Schwartz. 

Schwartz tem sido criticado, principalmente por não oferecer evidências concretas e científicas suficientes para definir o número ideal de opções a serem oferecidas para aumentar o bem-estar da sociedade. Os críticos muitas vezes oferecem evidências contrárias, como o fato de que a Starbucks, que possui um menu com centenas de possibilidades e personalizações, é uma empresa incrivelmente popular e lucrativa. Ou, por exemplo, citando o efeito chamariz que sugere que nos sentimos mais satisfeitos em escolher entre duas opções quando também nos apresentam uma terceira opção que é dominada assimetricamente. A opção dominada assimetricamente é, portanto, um chamariz que serve para aumentar a preferência pela opção dominante.

Em seu TedTalk, Barry Schwartz mesmo afirma que ter algumas opções é melhor do que não ter nenhuma opção, mas isso não necessariamente quer dizer que ter muito mais opções é melhor do que só ter algumas opções. Nesse artigo, Schwartz responde aos seus críticos que “pesquisas sobre o fenômeno continuaram, ampliando seu escopo, mas também identificando seus limites (por exemplo, para as pessoas que conhecem bem um domínio, mais opções parecem melhores do que menos e, se as opções forem organizadas em categorias, o efeito de excesso de escolha é atenuado ou eliminado)”.

Ele sugere que, se todos os estudos sobre o impacto das opções sobre as escolhas fossem compilados, provavelmente descobriríamos uma média: às vezes, mais opções aumentam a satisfação, às vezes têm o efeito oposto. 

Para ele, mesmo que ainda não saibamos o número mágico, precisamos entender que já passamos do ponto de continuar aumentando as opções como meio de melhorar nosso bem-estar pessoal e coletivo. 

O Paradoxo da Escolha é apenas um modelo. E como disse George Box: “Essencialmente, todos os modelos estão errados, mas alguns são úteis”. Por isso devemos nos concentrar mais em saber se (e como) algo pode ser aplicado à vida cotidiana de maneira útil, em vez de debater incessantemente se uma resposta está correta em absolutamente todos os casos. 

Aqui cabe relembrar: O que permite toda essa discussão sobre otimização da escolha é a afluência material. Em muitos lugares do mundo (inclusive no Brasil), o problema não é a diversidade de opções (o que chamamos de problemas de primeiro mundo), mas sim a escassez. Precisamos, como sociedade, encontrar um meio-termo: de um lado, permitindo às pessoas de maior afluência se beneficiarem da variedade de opções sem serem paralisadas pela escolha; e do outro, aumentando o leque de escolhas daqueles que atualmente não tem acesso tão amplo. É o desafio de criar um bem-estar que seja de fato coletivo.

Aprender a escolher é difícil. Aprender a escolher bem é mais difícil. E aprender a escolher bem em um mundo de possibilidades ilimitadas é ainda mais difícil, talvez difícil demais.

Barry Schwartz, O Paradoxo da Escolha

Dando o fora no Paradoxo da Escolha:

Cinco dicas para desparadoxar nossas escolhas:

  1. Decida quando maximizar e quando o satisfatório é bom o suficiente: Por exemplo, na nossa casa, tentamos equilibrar: No mercado, somos satisficers. Agora que já sabemos os produtos que funcionam para a gente, compramos sempre os mesmos. Entregando, com escolhas mais difíceis, como a escola de Arthur, somos maximisers. Não significa que procuramos a escola perfeita, mas dados nossos valores (por exemplo educação sócio-emocional, inclusão, respeito do indivíduo) procuramos a melhor escola que pudermos oferecer a Arthur dentro do nosso contexto logístico-financeiro.

  2. Seja grato pelas suas escolhas: Quando tomamos uma decisão tentamos conscientemente ser gratos com mais frequência pelo que há de bom nessa escolha ao invés de focar no que está faltando (uma forma de superar o viés da negatividade, como explicamos na semana passada). 

  3. Pare de procurar o carro, a casa ou o parceiro perfeitos: Mesmo sendo um maximizador, entenda que não há escolha perfeita. Em vez disso, pense em seus valores essenciais e use-os para otimizar suas escolhas. Como diz Adam Grant, 10 é para excelência, não para perfeição.

  4. Ajuste suas expectativas e esteja ciente da comparação com os outros: Lembre-se que a felicidade = realidade - expectativa

  5. Diferencie entre decisões reversíveis e não reversíveis: Gaste mais tempo e energia com as decisões mais difíceis de reverter (revisite nossa newsletter sobre a fadiga de decisão para mais dicas).

  6. Tente ficar satisfeito com suas escolhas, mas lembre-se: se não estiver satisfeito, não há problema em ignorar os custos irrecuperáveis (mesmo que sejam altíssimos) quando perceber que a decisão que tomou não lhe serve mais.

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